quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A Primeira Angustia

A luz forte e branca invadiu meu quarto. A claridade que entra é refletida na parede banca me cegando. Dois homens entram no meu quarto seguidos pela freira vestida de pinguim. Os dois usavam branco. Um deles tinha em uma das mãos uma seringa grande e comprida. A agulha era maior que a própria ampola. Nunca tive problemas com agulhas. A freira é a primeira a se manifestar.
"não resista minha filha"
Nesse momento um dos homens me segurou forte nos punhos. Eu ainda não tinha forças para reagir. Foi necessário só um deles para me levantar. Nisso ouço longe.
"essa, não dura muito não."
"silêncio!"
Foi a resposta ríspida da freira se apressando para cobrir minhas pernas. Senti o vento encanado do corredor. Meus pés frios que já calçaram sapatilhas agora estão descalços arrastados pelo chão. É áspero, e corta. Meus olhos embaçados vêm o fim do corredor. Uma porta entre aberta. De onde sai um cheiro de carne frita. Vejo a porta se mover e sair mais um homem. Tão grande quanto aquele que me carregava. Ele também carregava alguém. Um ser magro, arrastando os pés. Não segurava a saliva na boca. Ao passar por mim vi os olhos sem vida. Mas eles brilhavam com uma intensidade única. O cabelo comprido caía sobre os olhos, mas eu os vi. Ele esboçou um sorriso. Não consegui retribuir, calafrios e mais calafrios corriam pelas minhas costas. Sou colocada dentro da sala. Pouco vejo, mas o que via era uma cadeira, parecida com aquelas de dentista. Uma maleta ligada à tomada. Mais quatro daqueles grandes homens de branco. E uma mulher, essa não vestia hábito. Vestia um vestido marrom dedos abaixo do joelho. Uma blusa branca e um terno bem cortado. Maquiagem pouca e sombria. O sorriso não era de pena, nem de misericórdia. Ela gostava de estar ali. Os olhos dela pareciam vibrar.
"Ela é nova?" "qual o nome?"
Antes que eu mesmo falasse o homem de branco que me arrastava estendeu uma prancheta para a mulher. A face dela não mudou. Aproximou-se de mim. Não consegui encara-la, estava muito perto e eu ainda muito grogue. Sou posta na cadeira. Meus tornozelos e meus punhos amarrados. Na minha cabeça uma cinta passa e prende. Assim nem para os lados eu posso olhar. A mulher ainda me encara, agora de cima. Ouço barulho de água corrente. Logo sinto meus pés sendo molhados, não posso ver nada. Logo vejo uma mão passar pelos meus olhos. E minha testa também é molhada. Ouço uma risada fraca. E de novo a mulher me olha nos olhos. O brilho dela me assusta um pouco. Uma faísca sai de dua pequenas bolas que ela segura. A luz começa a falhar de novo. Um zumbido começa baixo e vai aumentando perto da minha orelha. Sinto uma fisgada na cabeça e no pescoço. Meus olhos reviram e embaçam. O que vejo agora são pequenos quadrados. Pixels de luz desenhados por trás de minhas pálpebras. Escuro.

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