segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Homens de Branco?

"GRAVIDA?!" Foi o grito que eu ouvi retumbar dentro do meu quarto. Que mesmo não sendo grande sua altura proporciona ecos. Eu conhecia aquela voz. Era brava, muito mais, era raiva que eu ouvia. Era minha mãe! Mas a quanto tempo estou aqui? Já perdi a noção. Não tenho vontade de abrir os olhos. Mesmo meu corpo não doendo mais. Não tenho mais amarras nas mãos. Abro os olhos esperando o terror que se anunciava. "Como assim ela está gravida?" Ela ainda não viu que acordei. Sua postura era desafiadora. Com ela estava a freira pinguim e o doutor de cabelos bagunçados. "como isso aconteceu?" Eu só a via por causa do espelho que ficava do lado oposto da cama. Faz tempo desde a ultima visita. Não parece ter mais machucado algum na mão. "um mês atras ela não estava assim" Gritos e mais gritos. Nada que eu não estivesse acostumada a ouvir. "Até onde eu sei, não foi feito nenhum exame nela antes de vir até aqui." Foi seco e grosso. Minha mãe engoliu a seco. Sem baixar a guarda. "Ela estava em outra instituição antes".É verdade, este não é meu primeiro pesadelo. Já estou na segunda vinda. Minha mãe olha de canto para dentro e sai em direção ao corredor. Não sei se chorava. Ou se apenas ignorava o fato de sentir. Evitei me mover, não quero vê-la. O doutor não saiu atrás dela. Ficou imóvel olhando para mim. Eu tentei sentar. Me senti tonta e voltei para trás. Ele veio até a minha cama. "Como você está?" "Me sentindo em casa, com ela gritando e me acordando" E sorri. O médico nada fez. Apenas olhou meus exames novos. Tocou minha barriga. "está ficando grande" Eu só consegui esboçar um sorriso. Ainda não entendo e não lembro como coisas assim aconteceram. Algumas das marcas no meu ante-braço me dão um motivo. A lembrança tarda. Cada vez mais. Fiquei na cama por mais alguns instantes. Pelo menos até tudo parar de girar. Ele saiu do quarto. Recomendou passeios pelo pátio. Levanto. A tontura reaparece. E vai embora rápido também. O chão já não era tão frio. Me olho no espelho. Dou falta de algumas marcas. O eletrochoque deve ter parado. Meu cabelo nasceu de novo. Coloco a mão na minha barriga. Sim, está crescendo. E agora? Ela está me protegendo. Nada pode me tocar enquanto eu tiver ela comigo. Vou para o corredor. Toda a dor que aquilo transmite. As pareces de pedra são escuras. O corredor muito pouco iluminado. Algumas pessoas passam por mim. Alguns cambaleantes culpa dos remédios. Outros transtornados apenas batiam com a cabeça na parede. Vejo poucos homens de branco hoje. Acho que cansaram de se preocupar comigo.

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