segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Que Sobrou em Mim

Minhas percepções mudaram. Estou com medo. Medo do que meus sonhos ainda podem me mostrar. Ou me lembrar. Escuto tudo a minha volta. Mas não tenho força para abrir os olhos. Sinto que tem mais alguém na sala. Mas ainda não consigo falar. Meu maxilar ainda pende e eu continuo a babar. Sei porque sinto minha camisa molhada/quente. Não são nenhum dos doutores malucos. Não há sorrisos. De nenhuma forma. Muito pelo contrario, sinto choro, tristeza. Ouço uma voz conhecida. Sinto uma mão tocar a minha. Sinto uma barba roçar no meu rosto. E me sinto sozinha de novo. Não entendo a minha troca de percepções. Não entendo mais meu corpo e meus devaneios. Me perco sozinha dentro do meu corpo. Não lembro quanto tempo estou aqui. M e parecem poucas horas. E agora me parecem tantos dias. Me agito, mas meu corpo não responde. Minha cabeça trabalha a mil, mas meu coração e meus sentidos não respondem. Minha cabeça dói. Sem que eu abra os olhos sinto a claridade fraca da luz do quarto acender. Sinto frio. Meu estomago parecer corroer por dentro. Não me lembro da ultima vez que comi. Sinto que sou tocada. Alguém mexe no meu maxilar. Agora ouço com perfeição o que acontece. "Ela está fraca" Era uma voz grossa, desconhecida por mim até então. " O que houve com ela?" Perguntou a voz masculina. Quem respondeu foi a voz gélida da freira/pinguim. "Um choque exagerado depois de morder a mão da mãe durante a visita". Silêncio de novo, mas continuo com uma mão no meu rosto. "vou colocar o maxilar no lugar". A dor que senti não tenho como descrever. O meu grito foi em outro momento descrito como 'desesperador'. Desperto devida a adrenalina da dor. Abro os olhos e dou de cara com um homem. O mesmo que mexia em mim. Era velhinho. Mas robusto e andar imponente. " a língua dela também esta machucada." Abriu minha boca e passou algo em mim. Eu não me movia porque estava amarrada. A dor era dilacerante. Depois de cuidar da língua soltou meu rosto. E pela primeira vez vi bondade ali. A freira observava nervosa por cima do ombro dele. Eu não quis fazer mal a ele. Nenhum impulso veio a minha mente. Ele virou-se para a mulher de hábito. "ela não pode sofrer nenhum tratamento nos próximos dois dias." O tom de voz dele era severo. "fui claro?". A freira olhou para o homem. Sem ousar encara-lo. "ela vai ficar incontrolável". Pensei comigo mesmo depois de ouvi-la 'vou mesmo'. "É o preço da incompentência." Virou para mim. E saiu. A freira me olhou pela primeira vez com medo. E meus olhos brilharam. Consegui sorrir de canto. A freira fez o sinal da cruz e saiu. Por que ela tem tanto medo? Mesmo amarrada sinto que o remédio começa a deixar de fazer efeito. Mais dores aparecem. Meu abdome dói muito. Sinto meu corpo tremer de frio. Minha cabeça já nem dói mais. As outras dores tomaram o controle. Só posso mover meus dedos. Que doem ao retrair com as outras dores. A dor no abdome aumenta. A dor é fina. Como se muitas e muitas agulhas entrassem em mim. Eu desmaio de dor. Quando acordo está claro. Fiquei muito tempo desacordada. Tento me mexer pouco não quero machucar mais nas amarras. Estou solta. sem amarra nenhuma. Tento me levantar e incrivelmente consigo. Estou com uma roupa limpa. Sem marca de baba ou sangue. Minha cabeça não dói mais. O sol parece estar brilhando lá fora. Minha porta está aberta também. Sento na cama. Meus pés ainda doem. Me sinto inchada. Levanto. O piso frio congela meu pé descalço. Vou até o espelho. Me vejo. O choque é grande. Não vejo quase nada daquilo que vi nas lembranças. Meu cabelo sem cor alguma. Empastado malcuidado. Tenho dois curativos. Um em cada têmpora. Um dos meus olhos continua com hematoma. Não está mais roxo. Vai ficando esverdeado. Combina com meu nariz fino. Meio corroído por dentro. Minha boca cortada. Inchada. Meu maxilar doí ainda. Mas está no lugar agora. Quem me deu aquele soco pagará. Meus olhos estão sem sem cor. Preto fosco, se isso é possível. Meus dedos com todas as articulações escuras. Machucadas de contrair com dor. Os punhos e tornozelos com as marcas do atrito do coro. Aquelas amarras machucam muito. Me sinto enjoada. O cheiro do material de limpeza embrulhou meu estomago. Eu devo ter comido. Vomito em um balde debaixo da cama. Quanto tempo eu apaguei? Por que eu não lembro de trocar de roupa ou comer. Sento na cama de novo. Sinto algo se mover em mim. Meu abdome dói de novo. Começo a enjoar com o cheiro das flores lá de fora. Desmaio. Acordo. Meus olhos embaçados olham minha volta. Ainda estou no meu quarto. Minha barriga parece maior.

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