sábado, 4 de fevereiro de 2012

O Sinistro

A destreza das mãos com a lâmina vem desde cedo, junto com o gosto e o vicio por sangue. Não porque é mal, mas por curiosidade de um menino de treze anos. Depois de um dia jogando bola chegou em casa e não havia nada na geladeira. A mãe chega algum tempo depois, já embriagada como de costume. Ela segurava uma garrafa de uísque quase vazia pelo gargalo. Trocava as pernas e sentou na mesa da cozinha. Toni, que já aturava isso a tempos perguntou o que teria para comer.
"Foda-se você, cace e coma." E virou mais alguns goles da garrafa deixando-a seca. Nesse momento a ideia de caçar veio a mente. Porque não caçar ela mesmo. Foi até o balcão da pia da cozinha e pegou uma das facas maiores da gaveta. Ela estava de costas quando ele disse "Mãe vou caçar o que comer então." Antes mesmo que ela pudesse se virar a primeira estocada abriu um buraco nas costas. Quase atravessou, a segunda foi sobre o ombro de cima para baixo. Por mais franzino que ele fosse, ela estava sentada e bêbada. Ela ainda teve tempo de virar e encara-lo. Mesmo revirando-se, ou pelo álcool ou pela dor, os olhos foram perdendo vida. Com um movimento sem jeito de quem faz isso pela primeira vez segurou o corpo quase morto com as duas mãos e jogou sobre a mesa. A faca já estava toda pintada de vermelho escuro. Com ela deitada na mesa de barriga para cima ele colocou a faca abaixo do osso do peito e abriu o tronco até o quadril. Tudo ainda quente e pulsante. Afobado para provar tudo aquilo, viu o coração ainda tendo alguns espasmos e puxou com a mão mesmo. O cheiro era delicioso e o gosto impecável, nunca antes tinha provado algo tão bom. Depois de provar algumas outras partes decidiu livrar-se do corpo. Mas como o pai não morava em casa, juntou suas roupas e pertences em uma mochila e saiu de casa. A cozinha ficou mais vermelha que branca e a mesa posta com os restos dela. Sua ultima lembrança de casa.
Sua casa agora fica em um lugar afastado da cidade. No bairro mais longe do contato com vizinhos ou visitantes indesejados. Na varanda da casa seus pequenos souvenires, filtros de sonhos com pequenos ossos. Na parede de madeira desenhos em vermelho destacam-se.
Quando acorda prepara o que comer, afinal aquela mulher a noite, só foi suficiente para a noite. Na mesa posta, uma sopa vermelha fumegante, o pacote onde estava o bebe está imóvel na outra ponta da mesa. Ele toma a sopa até o fim, chupa os pequenos ossos e os coloca no sol para secarem. Coloca seu jaleco branco e sai para outro dia de trabalho.