quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A Nova Vida

Abro os meus olhos. O sol vem de fora e me acorda. Os meses passaram rápido. Os dias começam mais claros. Deve ser verão ou quem sabe primavera. Mecho meus pés, eles parecem pães. Me levanto com muita dificuldade. Caminho até o espelho. Minha aparência mudou. Não tenho marcas nos braços. Minha testa tem apenas um ponto de cada lado. Marcas das antigas sessões de eletrochoque. Lembro da cena da primeira noite. O gosto do sangue ferve na memória. O coração dispara de leve. Uma sensação conhecida ataca o estomago. "Almoço" uma voz grita da porta. Reconheci. Era meu pai. Fazia tempo que não via. Estava diferente, mais velho, mais triste. Mas o brilho dos olhos revelava esperança. Fui ao seu encontro. As lagrimas eram inevitáveis. Ele me fazia muita falta. "Cade a ela?" "Querida, ela não veio." Suspirei, de alivio. "Tenho que te contar uma coisa, mas vamos comer." E abriu a marmita de plastico marrom que trazia. "Fui eu que fiz" Arroz, bife com alho, feijão e batatas fritas. Delirei, fazia tempos que não comia com tanto gosto. "Sua mãe e eu, nos divorciamos" Engoli a seco um dos pedaços do bife. "Bom pro senhor". "Sua guarda agora é minha", Meu coração começou a disparar. "Eu não autorizei que ela venha te ver, pelo menos até Ele nascer" Isso ainda me arrepia, tem alguém dentro de mim. Ele me deu um beijo na testa depois de recolher os potes. Me abraçou, ajoelhou-se e beijou minha barriga. "Até breve minha querida, até breve garotão" E saiu sem olhar para trás. Sabia que estava chorando. Aquilo me aliviou muito. Ela não chegaria perto de mim. Não tão cedo pelo menos. O dia passa sem novidades. Desenho algumas árvores, minhas lembranças aterradores parecem ter ficado para trás. A noite vem quente, com uma leve brisa. O sono bate pouco depois do suco de alaranjado. Deito para dormir. "Ja deitada?" Na porta o médico dos cabelos desgrenhados. "Deixe-me ver essa barriga" Tocou, examinou, olhou minhas pupilas e meu pulso. "Está perto, você sabe não é?" "Sei" Respondi morrendo de medo. "Muito perto na realidade" Senti minhas mãos suando. "Vai dormir, logo logo terás uma grande provação" E saiu pela porta. Logo adormeci. Os sonhos que me invadem são sinistros. E começo a me debater. Vejo sangue, muito sangue. Não, não pode ser lembranças, eu nunca estive nesse lugar. Tinha cheiro de bebida forte. Minha barriga começa a doer. Não reconheço a mobília. Reconheço alguém vindo na minha direção. Vejo as coisas como se estivesse no chão. Outra pontada na minha barriga. Sim eu estava no chão. Aquele garoto de novo. O mesmo das lembranças anteriores. Ele me levanta. Minhas mãos estão ensanguentadas. Minha barriga parece se contorcer. "AAAAI" Eu estou acordada. Sinto ainda cheiro de sangue, mas a dor na barriga é maior. Uma enfermeira chega. "Doutor, está na hora" A dor aumenta ainda mais. Começo a perder as forças. Vejo o doutor entrando correndo. "Calma, fica calma que ja estou te levando pra cirurgia". E sorriu. Sorri, com medo. "É pequena, chegou a hora." Eu sinto sorrir de novo, mas a dor é muito forte. Eu vejo tudo escuro. Sinto cheiro de sangue de novo. Minhas mãos estão lisas. Ele me levanta com dificuldade. Tem um bastão na mão direita. Me segura pelo quadril com o braço esquerdo. "Você ta bem Ana?" To sim" Me seguro em pé e vejo outro corpo no chão. Estou sem minha blusa. Eu reconheço o cara do chão. Ele me seguiu depois da festa. "Esse cara saiu atras de você la do bar" Sim eu me lembro passei na rua e ele me agarrou. "Você ta bem mesmo, ele abusou de você?" "Não deu tempo nem pra tirar minha calça e ele já era" E ri satisfeita. Ele tentou me agarrar eu falei que não resistiria. Ele achou qu eu estava muito louca e me trouxe pra cá. Um lapso e eu vejo o doutor de mascara cirúrgica. "Aguente firme, vamos começar" Sinto meu corpo se contorcer de dor. Vejo uma enfermeira com uma agulha enorme. Tudo bem, significa que a dor vai passar. Vejo a sala estranha de novo. Não deu tempo pra ele fazer muita coisa. Me deitei no sofa e tirei a camiseta. Ele tirou a dele e a calça. Eu tirei o sutiã. Ele deitou sobre mim. Nesse momento peguei meu sutiã com as duas mãos passei pelo pescoço dele e enforquei. O mais forte que podia. Bati com minha testa na testa dele. Ele apagou. Eu peguei a minha gilete e passei no pescoço dele. "E aparentemente você cortou mais ele né?" Disse o garoto observando a cueca manchada de sangue também. "Bom nem vivo nem morto ele vai usar" Vesti minha camiseta e saímos daquela casa. A dor me traz das lembranças. Escuto vozes sobre dificuldade. Pressão sanguínea e coisas assim. Sinto que está perto. Ouço um choro. Ouço pessoas ainda tensas. "É um lindo menino Ana" e o doutos vem até perto do meu rosto com um pequeno embrulho ensanguentado. Com olhinhos fechados e todo sujo Meu filho. É perfeito. "Já tens um nome Ana?" Tenho" O nome dele será Sid.

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