quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

As Mães

Incrível a dor que sinto, mas não desmaio. Meu rosto está suado. Tem muito sangue por aqui. Não estou acostumada com o meu sangue por aí. O doutor sorri satisfeito, enquanto uma das enfermeiras novatas da banho nele. "Ele vai ser muito forte". Alguém entra na sala. Me viro. É a madre. Aquela que todos temem. E me olha com um olhar frio e maligno. Eu tremo, mas devolvo o olhar. Surte efeito e ela entende o recado. Depois de todas as emoções sou levada par ao quarto. Quando chego tem um berço ao lado da minha cama. Azul, entalhado com um espaço para o nome. Deitei na cama. Como estou cansada. Todos os músculos do meu corpo doem. Mas estou tranquila. Adormeço sem suco dessa vez. Sinto alguém tocar meu braço e acordo. É uma das enfermeiras. Parecia com medo de me acordar. "Calma, não vou te tocar" eu disse. Ela me olhou de novo e me entregou o pequeno embrulho, agora limpinho e cheiroso. "Trouxe para você amamenta-lo". Céus como se faz isso? "Posso te ajudar, se você deixar" falou ainda com receio a enfermeira. "Por favor" Ela então ajeitou o pequeno nos meus braços e por instinto ele procurou meu seio. E a sensação foi inexplicável. E assim foi por algum tempo. Ele ainda não podia ficar ali comigo. Depois de uma semana ele veio. Passou a dormir no berço ao meu lado. O novo funcionário do necrotério veio me ver. Também não entendi a principio quando a enfermeira veio me falar. "Ele disse que conhece você a muito tempo". "Tudo bem, deixe-o entrar". Era ele. O mesmo que me salvou e me tirou de cima daquele homem. E quem me ajudou. Os olhos dele estavam mareados. Ele sabia que não o reconhecia pela sua imagem. Ele virou o rosto, com a barba bem feita para o berço. Pude ver suas mãos cortadas. O cabelo estava cortado e as roupas eram brancas. Mas os olhos tinham o mesmo brilho. Ele deu um passo para dentro. "Você não me reconhece né?" Perguntou com a voz engasgada. "Eu reconheço de algumas lembranças" Olhei para as mãos machucadas. "O que houve com sua mão?" Estava me agoniando não saber. Ele olhou para mim, vi algumas lágrimas correrem nos olhos. Ele enxugou com a manga branca. Respirou fundo. "É difícil esculpir coisas em madeira sem machucar as mãos". E apontou para o berço. Tinha sido ele. "Falta o nome" E sorri, fazendo ele sorrir de canto. "Por isso mesmo pedi para enfermeira me avisar quando estivesse acordada". Sorriu e pegou um pequeno pote de tinta do bolso. Meio confusa com aquela figura estranha mas ao mesmo tempo me sentia bem com ele ali. "Sei que você pouco lembra de mim." "Sinto muito, eu quero lembrar mais..." "Tudo bem, eu sei, fica calma. Que nome desse para ele?" O tom de voz dele era calmo. Mas entristecido. "Sid" "Lindo nome. Posso entrar?" "Claro, nossa desculpa." Ele entrou chegou perto de mim. "Sei que pode ser estranho, mas posso te abraçar?" Tremi, queria aquele abraço, a vontade disso me deu segurança para saber e abraçar. "Pode" Ele deu um passo a frente e me segurou. Eu senti que ele chorou de novo, mas conteve. Eu senti algo crescer em mim e meus olhos arderam. Eu chorei, sem saber mas quase entendendo. Ele me soltou e me olhou eu não escondi as lagrimas. Ele também não. "eu tenho que perguntar senão eu não aguento." E olhei aflita nos olhos dele. "Eu sei, pergunte o que quiser.". Eu sabia que era sincero. "Por que você veio?". "Porque eu..." Engasgou e olhou para dentro do berço. Eu o abracei e comecei a chorar. Não precisava falar mais nada. Eu sentia. "Ele tem os seus olhos." Ele chorou, muito. Depois pegou Sid no colo, totalmente desajeitado. Segurou contra o peito. Beijou-lhe a cabeça. E colocou no berço de novo. Nesse momento a enfermeira entra afobada dentro do quarto. "Desculpa, mas achei que devia lhe avisar" Sequei minhas lágrimas. Me virei para a porta. "O que houve?" "Acabei de ver sua mãe entrar com a madre aqui dentro. Ela pagou a madre para te ver e levar o pequeno daqui." E sentou na cama. Tinha subido correndo pela parte de serviço. "Tome" entreguei água para ela. "O que eu faço??" Comecei a desesperar. Por mais assustador que ter um filho me parecia. Mais eu queria ele do meu lado. Virei para ele que me olhava um pouco assustado. De pé na frente do berço como se protegesse. "Sai daqui, se a madre te ver tu é despedido" Ta bem. Mas eu volto, se cuida." "Ta bem." Ele ia passando por mim pra sair por impulso segurei seu braço. Ele virou-se eu dei um beijo rápido no seu lábio. Ele saiu ainda atordoado. Sentei na cama pensando no que faria. A enfermeira ao meu lado roía o que lhe sobrava de unhas."Se ela entrar aqui, com meu filho ela não sai." "E o que você vai fazer?". Ela me olhava com os olhos arregalados. "Vou retomar as rédias da minha vida". A enfermeira, era pouco mais velha do que eu. Mas a cara era de menina. "Eu vou vigiar pra você. Se elas vierem eu aviso antes" Senti que ela queria me proteger, mas queria muito mais o bem do Sid. "Obrigado" Ela saiu e ficou dando voltas no corredor. Depois de algum tempo ouço um alvoroço no corredor. A enfermeira entra e diz. "Elas estão vindo". "Avise a ele, não seio que pode acontecer". Os olhos se arregalaram e ela saiu em disparada na direção do necrotério. Dois minutos depois a porta do meu quarto abre. Aparecem a madre e minha Mãe. Ficam de pé. Estáticas. Enquanto encaro as duas sem esboçar qualquer reação. "Madre por favor, quero conversar a sós com minha filha." A madre sinalizou com a cabeça deu um passo atrás e fechou a porta. "Minha filha, quanto tempo?!" Ela tentou chorar. Mas não conseguiu. "O que você quer aqui?" Sem delicadeza e com firmeza falei, olhando nos olhos dela.. Ela deu mais um passo para dentro do quarto. Olhou na direção do berço. Que ficava do outro lado da minha cama. "Você sabe que não poderá ficar com essa criança, não sabe?". Tremi e cerrei meus dentes." Filha você está fraca. É agressiva, obsessiva, e ainda por cima mata pessoas." Rio entre dentes, como um sopro de ar. "Você não tem condições de criar uma criança". Ela deu mais um passo. Eu me sentei na cama com os pés tocando o chão. "Minha querida menina, eu sabia que você sempre foi diferente." Meus dedos estralavam. Meu olho tremia mas eu não chorava mais, não por ela. "Você é inteligente pra saber o que eu vim fazer aqui". E deu mais dois passos. Eu me levantei. "Não de mais nem um passo, não ouse chegar perto do meu filho." Ela parou. Me olhou com desprezo, como se não fosse ninguém. "Você nem sequer sabe quem é. Vai dizer pra mim que tem um filho? Ele será meu filho. E não será louco, como você" Eu dei um passo para o lado e fiquei entre ela e o berço. "Você não vai fazer da vida dele um inferno como foi a minha e a do meu pai" Ela pareceu se incomodar. Ela deu mais um passo. Ficou a meio metro de mim. Em direção ao berço. Me olhava desafiante. "Sei o que você fez na mão da madre." E me olhou de novo de cima. "Não sei como tantos enfermeiros morrem. Burros talvez." Ela olhava agora por cima do meu ombro para o berço. "Se você der mais um passo será o seu ultimo". Ela me olhou nos olhos de novo."Você deu a luz a uma semana só, nunca terá chance contra mim. Alias a madre está ali fora. Com dois enfermeiros e algumas agulhas caso necessário". Ela deu um passo e foi em direção ao berço. Quando ela passou ao meu lado. Segurei pela gola do vestido. As forças brotaram de mim. E agora eu tinha sede. E agora não tinha mais volta. "Sinto muito meu filho". Joguei Ela no chão. Ela escorregou no chão. Sem muito tempo de entender o que acontecia. Voei sobre ela. Ela bateu a testa no chão e ficou tonta, não conseguia falar. Segurei seu cabelo para que me olhasse. Encarei fundo nos seus olhos. Só vi ainda mais a frieza dela. "Você não vai escapar Ana.". Ela sussurrou, como me desafiando. "Você também não." Vi medo nos olhos dela. Levantei e ela tentava se levantar. Acertei o rosto com uma canelada. Ela caiu de novo. Fui até a pia, de frente pro espelho. Me olhei. Reconheci meus olhos. Reconheci o monstro dentro de mim. Vi Ela tentando levantar pelo espelho. Enrolei a toalha na mão. Quebrei o espelho. o barulho fez ela virar-se para mim. Peguei um dos cacos e fui para perto dela. Que agora tentava fugir. Sem muito efeito. Segurei de novo pelo cabelo. Mas o barulho do vidro quebrando chamou atenção da madre que entrou apressada. Quando se deparou com a cena que estava prestes a acontecer, fez o sinal da cruz. Chamou um enfermeiro que entrou cauteloso. "Ana ela ainda está viva. Não faça isso, vai ser pior pra você". Olhei dentro dos olhos da madre. Ela tremeu na batina. O enfermeiro estava displicente ao chegar perto de mim com a agulha. Não viu meu pé. Tropeçou e derrubou a seringa. Pude sentir o coração dele pular para fora do peito. Ela tremia com o caco do espelho em sua garganta. Quando a seringa parou de escorregar e parou debaixo da cama. Pude ver os olhos de panico do enfermeiro. E sentir minha mão deslizando levemente pela garganta Dela. Só vi as pernas darem algumas tremidas enquanto eu chegava até a cabeça do enfermeiro. Vi o medo em seus olhos, mas vi conformismo. Até o caco do espelho entrar na jugular dele. Aí su expressão foi dor seguida de expressão nenhuma. O sangue tomou o chão do quarto. A madre É a próxima. Mas ela virou e ia saindo pela porta, quando o doutor descabelado estava entrando. Seguido dele vestido de branco vinha o pai do Sid. A madre ao vê-los gritou. "Peguem ela e joguem no choque" E riu olhando pra mim. O pai do Sid atravessou o quarto e pegou o pequeno nos braços. Enquanto fazia isso me olhava. Eu confiei. Ficaram parados na porta. A madre na frente quase dentro do quarto os dois atrás. "Então doutor o que ainda espera? Torra essa maldita no choque" O doutor olhou para mim. O pequeno já havia saído dali no colo da enfermeira. "Estou esperando o surto passar madre" Os dois homens sorriram e me olharam. "Satisfeita Ana?" Perguntou o doutor me olhando nos olhos. "Ainda não" Segurava o caco e olhava para a madre. Vi a madre tremer. E vi a porta se fechar atras dela.

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